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Uma surpresa no Portugal dos Pequeninos Casa típica de Trás-os-Montes

A mesma casa, noutro ângulo

O Portugal dos Pequeninos, em Coimbra, mostra os maiores monumentos de Portugal em miniatura, mas a uma escala em que até um adulto se mexe à vontade. A visita a esse espaço é uma sucessão de surpresas, graças ao cuidado posto na construção e ao insólito que resulta do amontoar de edifícios do norte, do sul e das ilhas, todos misturados, numa dimensão que os torna mais visíveis no seu todo. O arquitecto que concebeu o projecto e os artesãos que trabalharam a pedra, a madeira, o azulejo, as telhas e as tintas eram excelentes. Mas trata-se de uma obra típica do salazarismo, e vê-la por esse prisma só aumenta o seu interesse, porque é isso que explica o ordenamento que apresenta e as escolhas feitas. Tanto um como as outras partem do que era considerado pelo regime como mais importante e dão o último lugar ao menos importante: começa-se por pavilhões dedicados às colónias; segue-se através de monumentos militares e religiosos e, lá no fundo, estão amostras de casas típicas de cada região. E, para além dos edifícios, há todo um discurso paralelo, patente num pequeno azulejo afixado discretamente em cada casa e onde transparece a política da época. Numa casa alentejana, por exemplo, o azulejo diz: A vontade de obedecer, única escola para aprender a mandar. Havia uma assinatura por baixo, mas foi rasurada. Porém, ao chegarmos à minúscula casinha que representa Trás-os-Montes, os dizeres fogem completamente à regra geral. O que lá aparece é o seguinte: Em mirandês! Pergunto-me quem teria fornecido ao Dr. Bissaia Barreto, ou ao arquitecto Cassiano Branco, este pequeno cantar mirandês, transbordante de juventude, espontaneidade.. e totalmente alheio à sisudez que o regime apregoava. E não pode deixar de me vir à ideia aquele homem sapientíssimo, mas divertido, grande conhecedor da música, da dança tradicional, do teatro, da história e da língua mirandesa, que foi o Dr. António Maria Mourinho.

MBF