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quarta-feira, junho 26, 2002
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5:52 da tarde
por Anónimo
O uso da língua mirandesa como tema de trabalhos universitáriosDa Doutora Olinda Santana, da UTAD, recebemos a seguinte notícia: No ano lectivo de 2001-02, foram realizados dois trabalhos de campo sobre o mireandês por duas estudantes mirandesas da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real: Esmeralda Jesus Fernandes Monteiro, de Vila Chã da Braciosa, e Carla João, natural da cidade de Miranda do Douro. Esmeralda Jesus Fernandes Monteiro fez um trabalho no âmbito da sociolinguística rural, com base num inquérito distribuído a 5 informantes que responderam em mirandês às seguintes questões: 1. Como se chama? 2. Em que ano nasceu? 3. Onde nasceu? 4. Há quanto tempo vive neste lugar? 5. Frequentou alguma escola? 6. O que faz agora? 7. Que outro trabalho já fez? 8. Gosta do sítio onde mora? 9. Acha que tem havido mudanças importantes neste lugar? 10. Durante o ano realizam-se algumas festas. Quais são elas? 11. O que faz para se distrair? 12. Na sua opinião as pessoas desta freguesia falam bem ou mal? 13. Nesta freguesia quem fala melhor: os mais jovens ou os mais idosos? 14. Quais os termos mais usuais para designar as alfaias agrícolas e que terão caído em desuso? A aluna colocou as questões em português, mas pediu aos informantes (Sr.ª Claudina Rosa Marcos, Sr.ª Fátima Lucas Soares, Sr.ª Bela Soares, Sr. Manuel Conde Trigo, Sr. Francisco Delgado Marcos) para responderem em mirandês. As entrevistas foram gravadas e posteriormente registadas por escrito. A partir dos textos obtidos e de um pequeno levantamento efectuado em duas obras (Convenção Ortográfica da Língua Mirandesa e Cancioneiro tradicional e danças populares mirandesas ) procedeu a uma selecção e ao tratamento semântico de algum vocabulário alusivo às alfaias agrícolas, aos têxteis, aos animais, às aves, árvores, pessoas e a expressões mirandesas. O tratamento semântico recaiu sobre 39 vocábulos da área lexical das alfaias agrícolas e têxteis retirados das entrevistas e 85 vocábulos retirados das duas obras supracitadas. Esta aluna, embora tenha colocado algumas questões relacionadas com as atitudes ou a valoração negativa e positiva dos falantes em relação à língua mirandesa, não tratou esse aspecto, limitando-se a fazer um pequeno tratamento semântico de algum vocabulário mirandês. O segundo trabalho, "Identidade de um povo", de Carla João, enquadra-se no domínio das atitudes e crenças sociolinguísticas. A aluna distribuiu 260 inquéritos por todo o concelho de Miranda do Douro, e a ele responderam 130 a pessoas do sexo masculino e 130 do sexo feminino. Foram dados em média 10 inquéritos por aldeia, vila e cidade. Na análise do inquérito, os resultados foram enquadrados em 3 faixas etárias: a primeira compreende 90 pessoas com idade entre os 15 e os 25 anos; a segunda, 87 pessoas entre os 30 e os 40 anos e o terceiro, 83 pessoas entre os 50 e 75 anos. O inquérito é constituído por 17 questões. 1. Sabe falar o Mirandês? 2. Fala sempre em Mirandês? 3. Se respondeu não à pergunta anterior, quais são as situações em que o fala? 4. Se for para um sítio diferente reconhecem de onde é pela sua maneira de falar? 5. Os seus familiares sabem falá-lo? 6. Acha que nas aldeias do concelho se fala o Mirandês? 7. Conhece a origem do Mirandês? 8. Sabe escrever o Mirandês? 9. Já leu livros em Mirandês? Quais? 10. Acha fundamental conservar o Mirandês? 11. Acha os incentivos adequados? 12. Que acha que pode ser feito para promover o Mirandês? 13. Gostava que os seus filhos aprendessem o Mirandês? 14. Acha que deviam existir cursos de formação de professores de Mirandês? 15. Considera o Mirandês um factor de identidade da região? 16. Acompanhou a evolução e a promoção do Mirandês como segunda língua oficial? 17. Concorda com a extensão da aplicação da língua mirandesa aos organismos municipais e estatais, câmaras, centros de saúde, etc.? Carla João fez um tratamento estatístico-quantitativo dos resultados obtidos nos inquéritos. Desses resultados podemos tirar algumas conclusões. Assim, por exemplo, a geração mais jovem, que tem entre 15-25 anos, mostra uma atitude bastante positiva em relação à língua mirandesa. Este grupo etário fala pouco o mirandês, apenas 26% o fala, mas curiosamente, este mesmo grupo etário escreve e lê em mirandês e conhece o passado histórico da língua. Este grupo defende a promoção, o ensino, a formação de professores e, por conseguinte, considera a língua mirandesa como um factor de identidade do povo mirandês e da região de Miranda (p. 19). Na geração de 30 a 40 anos, 55% sabe falar mirandês e, da geração mais idosa, dos 50 a 75 anos, 80% sabe falar mirandês; os 20% que não o sabem falar são naturais da cidade de Miranda, onde desde há muito não se fala esta língua. As geraçõess mais idosas falam mais o mirandês, mas são mais passivas e, sobretudo, mais pessimistas, a nível de atitudes, duvidando da importância da língua como identidade do povo mirandês e da região de Miranda (p. 19). Os jovens, embora falando menos o mirandês, têm no entanto uma atitude mais positiva em relação ao futuro da língua mirandesa, à sua protecção, promoção e desenvolvimento. Os grupos etários mais velhos falam bem o mirandês, mas têm uma atitude pessimista sobre o futuro da língua mirandesa. Os dois trabalhos foram apresentados no final do primeiro semestre, no mês de Fevereiro de 2002, à cadeira anual de História da Língua Portuguesa, disciplina do 4.º ano das Licenciaturas em Ensino de Português e Francês e de Português e Inglês da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro em Vila Real. Foram orientados pela docente da cadeira, Olinda Santana. Vila Real, 25 de Junho de 2002 Olinda Santana segunda-feira, junho 24, 2002
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5:46 da manhã
por Anónimo
Acrescentos à Bibliografia (9)Alves, António Bárbolo (2002) Palavras de identidade da Terra de Miranda. Uma abordagem estístico-pragmática de contos da literatura oral mirandesa, três volumes (tese de doutoramento), Université de Toulouse le Mirail, Toulouse. terça-feira, junho 18, 2002
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3:18 da tarde
por Anónimo
Primeiro doutoramento sobre a língua mirandesaAconteceu na Universidade de Toulouse Le Mirail, França. Em 14 de Junho de 2002, António Bárbolo Alves, mirandês, licenciado pela Universidade de Braga, leitor de português em Nice, escritor, homem de cultura, defendeu a sua tese de doutoramento, intitulada "Palavras de identidade da Terra de Miranda". Uma tese de cerca de 900 páginas, dividida em duas partes: " A entidade e a identidade mirandesas" e "Estudo Estatístico-Linguístico dos Contos". Na primeira é apresentada a história da Terra de Miranda, as tradições que constituem o "caleidoscópio identitário mirandês" e o papel dos contos tradicionais na sua definição. A segunda põe em relevo, através da análise estatística do léxico, a estruturação do discurso e as linhas temáticas que definem os contos como "fragmento identitário". Foi aprovado, com distinção e louvor, pela unanimidade do júri, constituído por seis pessoas: o presidente, Professor Christian Boix, linguista da Universidade de Bourgogne, o orientador da tese, Professor André Camlong, da Universidade de Toulouse le Mirail, autor da metodologia e do programa utilizados, o Professor Jean Louis Fossat, dialectólogo da mesma universidade, o Professor José Luis García Arias, filólogo da Universidade de Oviedo, a Doutora Olinda Santana, historiadora da língua da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e a Investigadora Manuela Barros Ferreira, dialectóloga do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. Já antes do doutoramento, como é de uso, todos os elementos do júri tinham dado um parecer sobre a qualidade do texto apresentado. Perante essas opiniões, o Professor André Camlong sugeriu que neste doutoramento o acento principal das intervenções recaísse sobre os caminhos que ele abria. E essa sugestão provocou, de certo modo, uma tarde mágica. Cada interventor fez uma leitura da obra em função daquilo que lhe pareceu mais prometedor e frutuoso como possíveis trabalhos futuros, tendo por base os dados da língua analisados e as conclusões a que o autor chegara. Cada um achou por bem recomendar-lhe que levasse por diante o seu trabalho, em determinada direcção. Por conseguinte, o Doutor António Bárbolo Alves, que entrou nesta "prova" com um trabalho feito e acabado, saiu de lá com vários novos trabalhos para levar a cabo. Alguém afirmou, durante aquela tarde memorável, que este mirandês simbolizava agora um enorme potencial de esperança. A esperança daqueles que acreditam na possibilidade de salvaguarda da identidade do mirandês. Resta-me desejar-lhe que os seus sonhos se realizem. Manuela Barros Ferreira 18.06.2002 domingo, junho 09, 2002
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2:53 da tarde
por Anónimo
Dies cuntados (6)Die seis You pensaba que l miu cuorpo chano i mie sangre de tinta serien lo bastante para custruir ua criatura screbedora. Mas nó. Faltan-me outras cousas. Falta-me l'alma de l screbedor. I falta-me la gana i la fame. Las palabras, tengo que prender-las an l'aire, quando buolan, mas mesmo essas, an mis dedos, nunca son paixaricos lindos, de cabecica redondica, mas uns paixarotes mui feios, cun penas clor de rato, que nin la mai deilhes reconhecerie. Al ber tal resultado, nun me botei a chorar solo porque m'alhembrei de l que acunteciu a ua amiga mie, que zaparciu chorando. Ye le çtino de las nubres, zaparcer chorando - l que nun ye mal ningun, puis eilhas cunséguen siempre renacer debrebe quando caien na l'auga. Mas essa amiga mie dou an cair nun cebeiro i fui a parar nua huorta de batatas nuobas, que tenerie ancantado esse tal de Virgílio lhatino, mas que para eilha fui un zastre. Puis you boltei eiqui solo para bos dezir que, mesmo culas deficuldades que tengo al screbir, inda nun zisti. Mas nun gusto nada que me mánden screbir. Quando me dízen: scribe, scribe, scribe! Esso an beç de me dar ganas de ampeçar, fai-me sentir nua fábrica, cul capataç a gritar "trabalhai, trabalhai, trabalhai, sous malandros!" You, por mi, solo screberei se tubir algua cousa que dezir. Mirai que nun digo "que anformar". Nun se scribe, nin se cumbersa, solo para anformar. Scribe-se i fala-se para star an quemunhon culs outros. "Quemunhon" e "quemunicaçon" , assi como "quemungar" e "quemunicar" son palabras que ténen la mesma ourige. Por isso, quemunicar ye la maneira que tenemos mais houmana de chegar a eideias que seian comunes culas de outras pessonas. Tengo seguido cun muito anteresse l'eiboluçon de las buossas cumbersas subre la Tinta Nubrada i subre l Nubeiro i sous nomes. Se alguien sabe algo mais subre l'ourige destes nomes todos - porquei nun le "quemunica"? Tinta nubrada Spácio, 9.6.2002
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